O que são as Doenças Inflamatórias Intestinais

Crohn e Retocolite

DII Brasil

O que são as Doenças Inflamatórias Intestinais

Entendendo as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) e as diferenças entre elas:

No contexto do Congresso Maio Roxo 2020, promovido pela DII Brasil, a  palestra da Dra. Ana Hamer  focou no esclarecimento sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), em especial a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa. Ambas são doenças autoimunes que afetam o intestino de forma crônica, alternando entre períodos de atividade intensa e remissão. Embora compartilhem algumas características, elas possuem diferenças importantes em relação à sua manifestação, localização e impacto na vida dos pacientes.

Sobre a palestrante:  Médica Gastroenterologista. Membro da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia) e do GEDIIB (Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil). Professora de Semiologia e Gastroenterologia da EMESCAM (Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória/ES).

A Doença de Crohn

A Doença de Crohn pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, embora tenha uma predileção pelo íleo (parte final do intestino delgado) e pelo cólon. Uma de suas principais características é o fato de ser uma doença "assimétrica" e "transmural". Isso significa que a inflamação não ocorre de forma contínua, mas sim em segmentos alternados, com áreas inflamadas intercaladas por regiões saudáveis. Além disso, a inflamação atinge todas as camadas da parede intestinal, desde a mucosa até a serosa, o que pode levar à formação de fístulas e estenoses (estreitamentos) no intestino.

Os sintomas da Doença de Crohn variam conforme a gravidade e o local da inflamação, mas geralmente incluem dor abdominal, diarreia (com ou sem sangue), perda de peso e febre. A presença de fístulas, principalmente na região perianal, é um sintoma característico da Doença de Crohn, e pacientes com esse quadro podem apresentar complicações graves, necessitando de cirurgias corretivas.

A Retocolite Ulcerativa

Já a Retocolite Ulcerativa afeta apenas o intestino grosso (cólon) e o reto. Diferentemente da Doença de Crohn, a inflamação ocorre de forma contínua, sem áreas de mucosa saudável intercaladas. Além disso, a inflamação na Retocolite é mais superficial, afetando geralmente apenas a mucosa intestinal, o que reduz as chances de formação de fístulas e outras complicações mais severas.

Os principais sintomas da Retocolite incluem diarreia com sangue, dor abdominal e tenesmo (sensação de urgência para evacuar). Devido à inflamação intensa e à friabilidade da mucosa, sangramentos são comuns durante a colonoscopia ou sigmoidoscopia. Como a Retocolite se limita ao cólon, o diagnóstico é mais preciso em comparação à Doença de Crohn, embora em alguns casos seja difícil distinguir uma da outra apenas com base em exames clínicos.

Diagnóstico das DII

O diagnóstico das DII é complexo e envolve uma combinação de exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos e radiológicos. Não existe um único exame capaz de confirmar a Doença de Crohn ou a Retocolite Ulcerativa, o que exige uma análise abrangente para evitar erros, como confundir essas doenças com infecções intestinais.

Na Doença de Crohn, é possível observar úlceras profundas e um padrão de "pedras de calçamento" na colonoscopia, enquanto na Retocolite, a mucosa tende a estar extremamente friável, com sangramento fácil e contínuo.

Impacto Extra-intestinal

Ambas as doenças podem apresentar manifestações extraintestinais, afetando articulações, pele, olhos e fígado. Essas manifestações podem incluir artrite, eritema nodoso (lesões na pele) e a colangite esclerosante primária, uma inflamação dos ductos biliares mais comum em pacientes com Retocolite.

Tratamento e Considerações

O tratamento precoce é fundamental para mudar o curso da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O manejo das DII inclui o uso de medicamentos imunossupressores, corticosteroides, biológicos e, em alguns casos, a intervenção cirúrgica. Além disso, é importante evitar o uso de anti-inflamatórios comuns, que podem piorar os sintomas e desencadear crises.

É essencial que pacientes com Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa sejam acompanhados de perto por um gastroenterologista, especialmente nos casos mais graves, para que possam receber o tratamento adequado e evitar complicações maiores, como a necessidade de cirurgias de urgência.

Essas doenças podem impactar significativamente a vida dos pacientes, especialmente os jovens em idade produtiva. O apoio familiar, o tratamento adequado e o diagnóstico precoce são cruciais para melhorar a qualidade de vida e a evolução clínica de quem vive com essas condições crônicas.