Doença inflamatória intestinal: o impacto invisível na saúde emocional
Conviver com uma doença inflamatória intestinal (DII), como a Doença de Crohn ou a Retocolite Ulcerativa, é muitas vezes um percurso longo e cheio de desafios. Para muitas pessoas, o caminho até o diagnóstico pode levar anos, entre consultas, exames, dores inexplicadas, idas ao pronto-socorro e a angústia de não saber exatamente o que está acontecendo com o próprio corpo.
Quando finalmente se esclarece o diagnóstico, é comum haver um misto de alívio e medo. Alívio por finalmente dar nome ao que se sente. Medo, porque uma nova etapa começa: aprender a conviver com uma doença crônica.
Os sintomas físicos, como dor abdominal, diarreia, perda de peso e fadiga, são muito incômodos e impactantes. Mas o que muitas vezes passa despercebido é o sofrimento emocional que acompanha tudo isso. É comum que pacientes enfrentem sentimentos de angústia, tristeza, medo do futuro e até vergonha de falar sobre a própria condição. Isso sem falar nos efeitos colaterais das medicações, como alterações de humor, insônia e inchaço, que também afetam a autoestima e o bem-estar.
Como psiquiatra, vejo com frequência o quanto o cuidado com a saúde mental é parte essencial do tratamento da DII. O corpo e a mente estão profundamente conectados. Viver com uma doença crônica exige força, resiliência e, acima de tudo, acolhimento.
O suporte psicológico pode ajudar muito nesse processo, tanto em momentos de crise quanto na adaptação à nova rotina. A psicoterapia individual oferece um espaço seguro para que o paciente possa elaborar seus sentimentos, lidar com medos e encontrar estratégias para viver com mais equilíbrio. Já os grupos de apoio proporcionam troca de experiências e a sensação de pertencimento, que é fundamental para reduzir o isolamento emocional.
Em alguns casos, o uso de medicamentos psicotrópicos (como antidepressivos ou ansiolíticos) pode ser indicado, sempre com acompanhamento profissional. Eles não são sinal de fraqueza, mas sim ferramentas de cuidado.
Outro ponto essencial é buscar preservar e fortalecer a qualidade de vida. Isso envolve respeitar os limites do corpo, manter uma rotina que inclua momentos de prazer, alimentação adequada, sono reparador, prática de atividades físicas na medida do possível e vínculos afetivos saudáveis. Ter uma vida com qualidade, mesmo com uma doença crônica, é possível e faz parte do tratamento.
E não menos importante: o apoio da família e dos amigos faz toda a diferença. Poder falar abertamente, ser compreendido, ter com quem contar nos dias mais difíceis, tudo isso é parte do processo de cura. Acolhimento também é cuidado.
Se você convive com uma doença inflamatória intestinal, lembre-se: não é preciso enfrentar tudo isso sozinho. Cuidar da mente é cuidar do corpo. E buscar ajuda é um ato de coragem!