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Tratamentos para Crohn e Retocolite Ulcerativa atualmente disponíveis

Tratamentos para Crohn e Retocolite Ulcerativa atualmente disponíveis é o tema que venho aqui apresentar para vocês na aula de hoje. Vou falar também sobre quais são os medicamentos disponíveis para o tratamento da Doença de Crohn e da Retocolite Ulcerativa.

Essa aula tem como objetivo levar informação ao público leigo, e não ao público médico especialista em doença inflamatória intestinal.

Doenças inflamatórias intestinais, como o próprio nome diz, são doenças que vão causar com a inflamação do intestino e que podem ser divididas em 2 grandes grupos, a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa.

São doenças que se caracterizam pela presença de diarreia, dor abdominal, perda de peso, algumas vezes com constipação intestinal muito frequentemente, com a presença de muco, pus e sangue nas fezes, presença de fadiga, algumas vezes com febre, anemia e manifestações extra intestinais, como por exemplo, a artralgia, alterações nos olhos, alteração na pele e muitas vezes com acometimento do fígado. 

Doença de Crohn

A Doença de Crohn é uma doença que acomete o intestino, da boca ao ânus, e tem como característica o acometimento salteado, ou seja, eu tenho áreas inflamadas do intestino que se intercalam com áreas saudáveis.

A Doença de Crohn se caracteriza também pela presença de inflamação transmural, ou seja, toda a espessura da parede intestinal está inflamada, com úlceras profundas, cursando com complicações como fístulas e estenoses.

Retocolite Ulcerativa

Já a Retocolite Ulcerativa tem um padrão de acometimento, que chamamos de ascendente e contínua, ou seja, a inflamação começa no reto e pode se estender por todo o intestino grosso, mas ela não vai acometer o intestino delgado.

Ela se caracteriza por presença de úlceras superficiais e com maior frequência pela presença de sangramento intestinal.

As doenças inflamatórias intestinais são doenças progressivas, significa que, com o passar do tempo, vamos ter mais complicações e mais incapacidade, motivo pelo qual o tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível.

Tratamentos para Crohn e Retocolite Ulcerativa disponíveis

O objetivo principal do tratamento é a cicatrização da mucosa intestinal, isso mesmo, o intestino que estava inflamado, passe a ser um intestino sem nenhuma inflamação.

Além disso, melhorar a qualidade de vida do paciente com um controle adequado dos sintomas e prevenindo também o desenvolvimento de complicações.

Dessa forma, reduzindo também o número de internações hospitalares, a necessidade de abordagem cirúrgica e diminuindo  o risco de neoplasia colorretal, ou seja, o câncer de intestino grosso. 

Para que o tratamento medicamentoso seja realizado de uma maneira adequada, é muito importante que o paciente encontre um médico especialista de sua confiança, aquele que será seu amigo ao longo dessa caminhada.

E como nós podemos fazer isso? Entrando no site do GEDIIB (https://gediib.org.br/), que é uma associação médica voltada ao estudo de doenças inflamatórias intestinais, e procurando na aba “encontre um especialista”.

Aqui vamos encontrar os médicos que são capacitados para o atendimento de pacientes com doença inflamatória intestinal em cada estado. 

Feito isso, quando nós vamos iniciar o tratamento medicamentoso, é muito importante que a decisão seja compartilhada, então é muito importante que o médico divida a decisão com o seu paciente, e para que essa decisão seja tomada de uma maneira mais consciente, é muito importante que o paciente tenha acesso à informação, ou seja, que ele conheça mais sobre a doença.

É muito importante também que seja estabelecida uma relação de confiança mútua e que o paciente tenha uma grande rede de suporte que permita ultrapassar todos os percalços relacionados ao tratamento.

Além disso, nós devemos discutir, quais são as melhores opções de tratamento e sempre tirar todas as dúvidas do paciente, além de programar um acompanhamento periódico adequado, estimular sempre a maior adesão possível a tratamento para que seja minimizado o risco de falha. 

Fatores que definem tratamentos para crohn e retocolite

Quais são os fatores que vão determinar a escolha do médico em relação ao melhor tratamento?

Então, como eu vou decidir qual medicamento eu vou prescrever?

A primeira coisa que nós levamos em consideração quando estamos diante de um paciente com doença inflamatória intestinal é: qual é o estado clínico do paciente.

Quais são os sintomas e qual é a gravidade da doença? Existem complicações? O paciente já desenvolveu fístulas, estenoses? Ele tem fator de mau prognóstico, ou seja, ele é jovem, ele tem doença extensa?

Ele já usou algum medicamento e falhou a esse medicamento? Teve algum efeito colateral? Teve alergia? É um paciente que eu tenho que me preocupar com o risco de infecção?

Por exemplo, pacientes idosos, eu não posso correr o risco de desenvolver uma pneumonia, por exemplo, ou uma tuberculose. Qual é a história da doença desse paciente? A doença sempre foi grave? Ela piorou ao longo do tempo? O paciente já fez alguma intervenção cirúrgica, perdeu algum pedaço do intestino? Ele tem acesso a recursos de saúde?

Por exemplo, não adianta eu passar um medicamento endovenoso para um paciente que não tem onde aplicar, que mora numa cidade pequena do interior, sem recurso hospitalar de alta complexidade.

O paciente tem manifestação extra intestinal, ou seja, ele tem alguma manifestação fora do intestino que me leve a pensar em outro tratamento, que mude a escolha do meu medicamento? Então, todos esses fatores são muito importantes na tomada de decisão. 

Que fatores impactam no prognóstico?

Quais são os fatores que vão impactar no prognóstico, ou seja, quais são os fatores relacionados a uma pior evolução da doença?

Primeiro, doenças extensas, ou seja, que acometem muitos segmentos do intestino e que se localizam especialmente no intestino delgado, tendem a ser mais graves.

Além disso, pacientes jovens e pacientes fumantes também tendem a ter um pior prognóstico, assim como aqueles que já têm complicações, ou seja, que já desenvolveram fístulas ou estenose, ou aqueles pacientes que necessitam do uso de corticóide para controlar os sintomas desde o início da doença.

Ou seja, aqueles pacientes que abriram a doença de uma maneira mais grave. 

Estabelecido o prognóstico, eu vou classificar o risco e a gravidade do paciente.

Ele poderá ser de baixo risco ou de alto risco. Ele tem uma doença que está muito grave ou ele tem uma doença que é mais leve, mais fácil de controlar? 

Tratamentos atualmente disponíveis

O tratamento será, sempre, individualizado. Não existe uma receita de bolo para tratar a doença inflamatória intestinal.

O tratamento que serve para o João não necessariamente vai servir para Joana, mas o objetivo final de ambos é o mesmo, indução da remissão. 

E o que é a remissão? A remissão significa controle dos sintomas e cicatrização do intestino. E para isso, nós temos um grande alvo.

E como vamos fazer isso? Mais uma vez, feita a classificação da gravidade da doença, nós vamos escolher qual protocolo seguir.

Existem basicamente dois grandes protocolos. Um protocolo chamado de step up, que é um protocolo escalonado.

Começamos com medicamentos de uma potência menor e vamos escalonando o tratamento ao longo do tempo. Vamos subindo a potência do tratamento.

Outro protocolo chamado de top down, aquele tratamento que já começamos de uma maneira mais agressiva, ou seja, com cirurgia, ou com medicamentos biológicos e, caso haja um controle adequado da doença, depois reduzimos o tratamento para uma potência menor. 

Um dos medicamentos mais utilizados para o tratamento da Doença de Crohn e da Retocolite Ulcerativa é o corticóide.

Que é o corticóide? Para o público leigo, corticóide basicamente é a prednisona, um potente anti-inflamatório, que é extremamente útil no tratamento das crises da doença, que consegue reduzir muitas vezes rapidamente os sintomas, mas ela também pode ser um grande vilão, especialmente se utilizada no longo prazo, porque o paciente vai desenvolver diversos efeitos colaterais.

Além disso, a prednisona não é um medicamento adequado para cicatrização de mucosa, então ela não consegue induzir a remissão endoscópica, que é tão almejada pelo paciente e pelo médico. 

Quais são os principais efeitos colaterais associados aos corticóides?

A formação de espinhas, a acne é bastante frequente, o rosto ou a face em lua cheia, que é aquele rostinho redondinho que a gente sabe que aquele paciente está usando o corticóide.

Ela aumenta o risco de infecção e isso é muito importante, especialmente no momento que nós estamos vivendo agora no meio da pandemia de coronavírus.

Sabemos que, de todos os remédios utilizados na doença inflamatória intestinal, o corticóide é aquele que aumenta mais o risco de uma infecção grave por COVID-19.

Pode também causar diabetes, pode causar osteoporose, hipertensão arterial, desenvolvimento de estrias, roxos na pele, insônia, tremores e muitas outras complicações de maneira que, corticóide, não é para ser utilizado por muito tempo.

Corticóide é uma droga de ponte até que a gente consiga o efeito de um outro remédio para manter a doença bem controlada. 

Outro medicamento bastante utilizado são os aminossalicilatos.

Basicamente, a mesalazina e a sulfassalazina. São medicamentos extremamente úteis para o controle da Retocolite Ulcerativa, leve a moderada, mas também podem ser empregados na Doença de Crohn leve, ou quando necessita fazer controle de algum sintoma extra intestinal, por exemplo, a artralgia, no qual a sulfassalazina tem um efeito interessante.

Elas não são consideradas medicamentos imunossupressores, são medicamentos que têm ação anti-inflamatória no intestino grosso, mas que temos que ter em mente que não vão conseguir atingir uma concentração muito alta, especialmente nas porções finais do intestino, que se chama de reto sigmoide.

Para os pacientes, então, que cursam com retite, o reto sigmoidite, muitas vezes nós temos que lançar mão de uma forma tópica da mesalazina, que seria o supositório, ou enema.

Por que? Porque se a gente tomar um comprimido, ele não consegue atingir uma concentração adequada para o controle da doença no final do intestino, porque ele tem que atravessar muitos metros para chegar ali e ele não consegue atingir aquela concentração esperada.

Esses medicamentos tem poucos efeitos colaterais. Eles podem cursar com desconforto abdominal, com dor de cabeça, com alergia e rarissimamente com alteração renal.

Mas são drogas de uma potência mais baixa, que são utilizadas em situações mais específicas. 

As drogas imunossupressoras são aquelas que têm ação imuno moduladora, ou seja, elas vão controlar a resposta imune do organismo.

Elas são utilizadas no tratamento, tanto da Doença de Crohn quanto da Retocolite Ulcerativa, especialmente nos casos moderados, a graves ou nos casos leves que não conseguiram controlar a atividade da doença, por exemplo, com desonida ou com mesalazina ou sulfassalazina. 

Os medicamentos mais utilizados são azatioprina e o metotrexato, mas algumas vezes a gente lança mão também da 6-mercaptopurina, do tacrolimus e da ciclosporina.

São drogas que tem ação lenta, ou seja, elas demoram alguns meses para fazer efeito, de modo que elas não são boas drogas para ser utilizadas de uma maneira isolada no início do tratamento da doença. 

Então, quando se começa a tratar a doença inflamatória intestinal, geralmente, se faz o tratamento combinado, usamos o corticóide associado com azatioprina, corticóide associado à metotrexato e depois acabamos suspendendo o corticóide, mantendo somente azatioprina ou metotrexato, quando essas drogas atingem um bom controle da doença.

Elas têm diversos efeitos colaterais, especialmente o risco de infecção, pancreatite, hepatite e redução das células brancas de defesa, rarissimamente podem cursar com linfoma e, em alguns casos, podem cursar também com intolerância gastrointestinal.

Vocês devem saber que algumas vezes a gente utiliza essas drogas em associação com imunobiológicos, especialmente com biológicos da classe de antagonistas, de TNF alfa, que seriam infliximabe e o adalimumabe.

Isso pode ser feito por um tempo pré-determinado ou pode ser feito por um longo período de tempo.

Utilizamos os medicamentos em combinação para reduzir o que chamamos de imunogenicidade. 

 

O que é a imunogenicidade?

Imunogenicidade é a resposta do nosso organismo contra o remédio biológico que estamos utilizando.

Vou citar aqui, por exemplo, o infliximabe, quando injetamos o infliximabe num paciente, o próprio organismo do paciente pode desenvolver um anticorpo contra o infliximabe.

Assim, para reduzir o efeito do infliximabe ao longo do tempo para evitar que isso aconteça, associamos um imunossupressor que reduza essa resposta imune contra a droga.

Isso pode ser utilizado num período curtinho ou pode ser utilizado também por vários anos.

Os medicamentos imunobiológicos são utilizados para o tratamento tanto da Doença de Crohn, como na Retocolite Ulcerativa.

Na Retocolite Ulcerativa moderada a grave, especialmente nos pacientes que já abriram a doença muito grave ou nos pacientes que falharam ao tratamento com os imunossupressores, eles são anticorpos que são produzidos por BIN engenharia genética e que são direcionados a alvos específicos do processo imune, e para a Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa existem 3 grandes alvos hoje disponíveis no mercado: o TNF alfa, IL 12/23 e a Integrina alfa 4 beta 7. 

As drogas, antagonistas de TNF alfa são o infliximabe, o adalimumabe, o certolizumabe e o golimumabe.

O antagonista de IL 12/23 é o ustequinumabe, e o antagonista de integrina alfa 4 beta 7 é vedolizumabe, também conhecido como intivio.

Eles tem rápido início de ação. Geralmente atingem um efeito após 6, 8 até 14 semanas do início do tratamento, e eles podem ser administrados tanto por via subcutânea quanto por via endovenosa, sendo que o intervalo de administração desses medicamentos, vão variar de acordo com o medicamento escolhido.

É muito importante saber que alguns medicamentos só podem ser aplicados pela via subcutânea e outros medicamentos só podem ser aplicados pela via endovenosa.

Por exemplo, infliximabe, vai ser aplicado somente pela via endovenosa, enquanto adalimumabe vai ser aplicado somente pela via subcutânea.

Já alguns medicamentos, como os tecnomabe, podem ser aplicados tanto pela via subcutânea quanto pela via endovenosa.

No caso dos tecnomabe, a primeira dose é venosa e as demais doses são subcutâneas. 

Podemos ver um exemplo de resposta ao tratamento com medicação biológica. Nesse caso, aqui está apresentada a resposta aos tecnomabe:

1- Pacientes que nunca foram tratados com medicação biológica: 

semana zero até semana 6 = 56% dos pacientes apresentam alguma resposta clinica.

2- Pacientes que já fazem uso de medicação biológica e começam a utilizar outro biolǵico:

semana zero até semana 6 = 34% dos pacientes apresenta melhora:

Quando fazemos um medicamento biológico em um paciente que já falhou a outro biológico, ou seja, eu já tenho um paciente refratário.

A taxa de resposta ao segundo, terceiro quarto biológico, ela é muito menor, então vocês podem vir aqui que a resposta cai de 56% para 34% na semana 6.

Ano 1 = 53% dos pacientes em remissão, sendo sustentada ao longo do tempo

Ano 3 = 43% dos pacientes mantendo uma resposta adequada ao tratamento

Nós sabemos que os medicamentos biológicos podem perder resposta ao longo do tempo justamente por aquele fenômeno de imunogenicidade, mas também pode acontecer dos medicamentos biológicos não funcionarem.

Então a gente aplica as primeiras doses e se aquelas doses não fazem nenhuma diferença para o tratamento do paciente, chamamos de falha primária.

Nos casos de perda de resposta, então aquele paciente que vinha evoluindo bem, mas que começa a perder resposta, a doença começa a retornar.

Ele volta a ficar sintomático, avaliamos o aumento da dose ou a redução do intervalo de aplicação da medicação biológica.

Em alguns casos, quando isso não funciona, optamos por trocar a classe do medicamento, o que também é feito quando o paciente apresenta falha primária, ou seja, aquele paciente que você utilizou aquele biológico e ele não teve nenhuma resposta.

Nesse caso, é mais interessante trocar a classe do medicamento.

Sabemos que o medicamento biológico reduz a eficácia de vacinas, por isso é muito importante antes de começar a medicação, atualizar o cartão vacinal e também é muito importante que os pacientes tenham a consciência que, uma vez iniciado o protocolo de imunossupressão, seja com azatioprina, seja com metotrexato, seja com imunobiológicos, está contra-indicado o uso de vacinas com agentes vivos, atenuados, cito um exemplo, a vacina da febre amarela, que é uma vacina com vírus vivo atenuado.

Não pode mais utilizar sob risco até de desenvolver uma forma de fusão da doença.

Os medicamentos biológicos podem ter vários efeitos colaterais, assim como os imunossupressores, eles aumentam o risco de infecção, podem aumentar o risco de linfoma, embora esse risco seja muito pequeno, podem causar reações alérgicas e alterações de pele, como por exemplo, a psoríase.

Então, devemos estar sempre atentos, acompanhando de pertinho o paciente, quando ele inicia um tratamento biológico. 

Existem algumas associações de medicação que são mais seguras do que outras.

É lógico que isso é levado em consideração quando estamos estabelecendo o tratamento da doença inflamatória intestinal.

Sabemos que os medicamentos corticosteróides são os agentes mais deletérios aos pacientes com doença inflamatória intestinal, por isso, eles são utilizados pelo menor tempo possível.

Enquanto os medicamentos mais seguros seriam, vedolizumabe e ustequinumabe.

Todos os medicamentos biológicos são de altíssimo custo, o que inviabiliza a aquisição por longo prazo pelo paciente, de modo que é preciso utilizar o sistema público de saúde através do SUS ou os convênios particulares para que se consiga manter uma administração adequada. Nem todos os biológicos estão disponíveis no SUS.

O SUS, tem critérios rígidos de dispensação que temos que preencher. Existe um formulário, um padrão de relatório, para ser preenchido quando solicitamos o medicamento para o SUS. 

Devemos também realizar todo um protocolo de revisão laboratorial quando vamos iniciar o tratamento.

Estamos buscando saber se o paciente não tem uma tuberculose latente através do PPD, fazendo o rastreamento de hepatites virais, do HIV, um raio x de tórax antes de prescrever a medicação, a decisão, ela deve ser sempre individualizada, contextualiza, dentro ali da gravidade da doença do paciente e do cenário que aquele paciente está inserido, de maneira que é muito importante compartilhar com o doente as opções do tratamento. 

Além disso, é importante destacar que não deve ser realizada de maneira alguma auto medicação. É muito perigoso.

Se um paciente utilizou uma medicação X, essa medicação também vai ser benéfica para o tratamento do outro paciente, porque às vezes não é.

Então precisamos sempre pesar risco x benefício antes de tomar a decisão mais adequada. 

O tofacitinibe é um inibidor de JAK quinase empregado no tratamento da Retocolite Ulcerativa moderada a grave.

Ele tem uma ação imunomoduladora da produção de citocinas e justamente por inibição da JAK tirosino-quinases, tem um rápido início de ação e tem como grande vantagem a via de administração por via oral.

É um medicamento que foi disponibilizado no Brasil há menos tempo.

Ele vem crescendo nos últimos meses e que apresenta alguns efeitos colaterais que a gente tem que tomar um certo cuidado, especialmente o risco de infecção por herpes zoster.

Então é muito interessante que os pacientes façam a vacinação antes de iniciar o tofacitinibe. 

Com relação à gestação, sabemos que a maioria dos medicamentos é seguro. O médico assistente deve ser sempre informado do desejo da mulher de engravidar.

Por quê? Porque é importante ajustar as medicações e efetuar um controle adequado da doença antes que a paciente engravide.

O metotrexato tem que ser suspenso antes da gestação, de modo que se você estiver utilizando metotrexato é extremamente importante comunicar ao seu médico.

E as outras medicações, elas podem ser mantidas, mas elas vão ser sempre individualizadas, pesando risco x benefício, junto com o paciente. 

O mais importante, quando a gente está planejando uma gestação, no entanto, é evitar que aconteça uma crise, uma ativação da doença durante a gestação.

Porque isso, sim, é extremamente deletério a ao embrião que está ali sendo gerado.

Então, para resumirmos o que foi dito até agora, partindo do diagnóstico de doença inflamatória intestinal, vamos dividir os pacientes em dois grupos, os pacientes de alto risco e os pacientes de baixo risco.

Aqueles pacientes de alto risco, com marcadores de mau prognóstico, vamos avaliar o início da terapia top down, ou seja, vamos iniciar de uma maneira mais agressiva, geralmente com medicamentos biológicos associados ou não, imunossupressores e provisco com a realização de cirurgia para depois avaliar o escalonamento. 

Já os pacientes que apresentam baixo risco, nós podemos iniciar em um protocolo escalonado, que é o protocolo step up.

Vamos subindo a potência das medicações e à medida que o paciente não responde ao tratamento instituído, a reavaliação vai sendo feita com intervalo variado, depende do medicamento obviamente que estamos utilizando, mas na maioria das vezes avaliamos a resposta ao tratamento em torno de 6 a 9 meses após a instituição daquele medicamento.

Vamos monitorar a resposta ao longo do tempo e para isso é muito importante o acompanhamento periódico junto ao médico gastroenterologista e coloproctologista.

E também a realização de exames de laboratório, como por exemplo, a calcopectina fecal e a realização de exames endoscópicos, no caso, a colonoscopia ou endoscopia, quando for adequado.

Exames de imagem como etero, tomografia ou entro ressonância.

Nos pacientes que perdem efeito da medicação ao longo do tempo, ou seja, que voltam a ativar a doença, podemos otimizar o tratamento aumentando a dose ou encurtando o intervalo entre doses, ou podemos até mesmo considerar a troca de classe da medicação.

Mas, o mais importante de tudo é que utilizemos a droga certa, na dose certa, para o paciente certo.

E assim conseguimos controlar a doença e induzir a remissão, que é a tão sonhada, tanto pelos médicos quanto pelos pacientes.

Os medicamentos disponíveis no SUS são, no caso da Doença de Crohn, a prednisona, azatioprina, metotrexato e os biológicos infliximabe, adalimumabe e certolizumabe pegol e no caso da Retocolite Ulcerativa, a prednisona, a mesalazina, sulfassalazina, azatioprina e os biológicos, infliximabe, vedolizumabe, que foram recentemente aprovados no novo PCDT de Retocolite Ulcerativa, que foi uma luta grande dos pacientes e das associações.

Existem outros medicamentos para as doenças inflamatórias intestinais que estão aprovados em bula que, como falamos, são vedolizumabe e ustequinumabe, no caso da Doença de Crohn, e no caso da Retocolite Ulcerativa, ustequinumabe, golimumabe e tofacitinibe, que podem ser obtidos em alguns convênios e alguns planos de saúde.

Mas aí também depende muito do plano de saúde que você está inserido.

Para onde vamos então? Essa é uma pergunta muito importante, especialmente para aqueles pacientes que já estão desesperançosos com o tratamento da doença, que já passaram por vários medicamentos e que não conseguiram a tão sonhada remissão. 

Como falamos, temos medicamentos específicos para tratar a doença inflamatória neste momento e temos outros tantos sendo testados com excelentes perspectivas de novos tratamentos.

De modo que, cada vez mais o tratamento será individualizado, então, no futuro, aquilo que falamos a pouco da dose certa no paciente certo, medicamento certo, vai ser uma verdade absoluta. 

Por quanto tempo eu devo manter o tratamento? Essa é uma pergunta que angustia muitos pacientes e que, infelizmente, não existe resposta.

Existem alguns estudos em andamento na tentativa de esclarecer essa dúvida, mas o que a gente sabe hoje é, não existe um tratamento curativo.

Existem formas de controlar a doença, de induzir a remissão.

Sabemos que o tratamento, o descalonamento, quer dizer, a retirada do tratamento ela é possível, mas em algumas circunstâncias muito específicas e que a gente deve ter sempre em mente, que a retirada do tratamento pode fazer com que a doença reative no futuro. 

Então temos sempre que tomar uma decisão compartilhada de risco x benefício.

Pacientes que podem realizar tratamentos para Crohn e Retocolite 

Quem são os pacientes que podem avaliar retirada de tratamento?

Só aqueles pacientes que estão com a doença controlada, ou seja, os pacientes em remissão, que não têm fatores de mau prognóstico importante e que concordem com o risco da recaída ao retirar o tratamento.

A gente não sabe se a doença vai voltar, em quanto tempo ela vai voltar, mas sabemos que o risco existe. Então nós temos que individualizar se vale ou não a pena correr esse risco.

Para terminar, é muito importante que vocês compreendam o diagnóstico.

Qual é o prognóstico da doença? Quais são os objetivos do tratamento? Então, o que que eu estou buscando junto ao meu médico ao utilizar aquele medicamento?

Que você divida suas angústias e dúvidas com o médico, esclareça tudo o que for necessário para que seja realizado um tratamento mais tranquilo possível,  de uma maneira mais segura.

E que você participe do processo decisório de uma maneira que,  juntos, médico e paciente, possamos ser mais fortes e vencer essa doença.

Por fim, eu gostaria de convidar vocês a visitar o Instagram e o Facebook da DII Brasil, que é a Associação Nacional de Pessoas com Doenças Inflamatórias Intestinais, onde vocês vão encontrar informações sobre a Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa.

Um grande abraço a todos.

 

Texto extraído da vídeo-aula ministrada pelo Dr. Guilherme Grossi Lopes Cançado, no evento Maio Roxo 2020.

Dr. Guilherme é médico gastroenterologista e hepatologista pelo HC-UFMG. Mestre em Saúde do Adulto com ênfase em Gastroenterologia pela UFMG, Chefe da Clínica de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais. Médico preceptor das residências de Clínica Médica e Gastroenterologia do HC-UFMG. Membro do Conselho Científico da DII Brasil.

 

Vídeo transcrito por Heloísa Rampazzo, voluntária da DII Brasil.