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Crohn, Retocolite e a saúde dos olhos

A Importância da Avaliação Oftalmológica nas Doenças Inflamatórias Intestinais foi o tema de uma palestra ministrada pelo Dr. Alexandre Bomfim Rodrigues, no evento Maio Roxo Virtual em 2020. O teor da palestra segue agora para conhecimento e também para as pessoas que conseguem ler mas não podem ouvir o áudio.

Sobre o convidado: Dr. Alexandre é médico oftalmologista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. Especialista em Oftalmologia, reconhecido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Especialista clínico e cirúrgico em Retina e Vítreo pela Santa Casa de Misericórdia/BH.  Foi preceptor em Catarata e Bloco Cirúrgico pela Santa Casa de Misericórdia/BH.  Membro da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR/BRASCRS). Membro da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV). Proprietário do Núcleo Oftalmológico Dr Alexandre Bomfim Rodrigues.  Chefe do Departamento de Retina do Núcleo Oftalmológico Dr Alexandre Bomfim Rodrigues. Chefe do Departamento de Retina do Núcleo Oftalmológico Dr. Rimack Filho/Governador Valadares MG.  Membro do Conselho Científico da DII Brasil.

“Eu tenho a minha clínica aqui em Joinville-SC, represento o grupo das doenças inflamatórias intestinais, faço parte do comitê científico, o qual para mim, é de grande honra fazer parte deste grupo. E agora no Maio Roxo, um mês que tem uma representação nacional e mundial da causa das doenças inflamatórias. É uma doença que tem uma prevalência significativa, comete diversas pessoas no mundo todo. Temos dificuldades diagnósticas e terapêuticas, na maior parte das vezes ,também por questões de liberação de medicação.

Vou falar pra vocês um pouquinho do que são as questões da oftalmologia, relacionadas com as doenças inflamatórias intestinais representadas aqui pela Colite Ulcerativa e Doença de Crohn. Existe uma prevalência aí em torno de 150/100.000 casos da população. Isso pode variar de acordo com a bibliografia que for levantada, mas sem dúvida, é um número aparentemente pequeno, mas considerando o tamanho do nosso país, e a população mundial, representa uma grande quantidade de pessoas.

É interessante ressaltar que as doenças inflamatórias intestinais se apresentam de diversas formas, mas a mais comumente conhecida pelo leigo e pelo paciente, às vezes que já inicia o seu diagnóstico, são as manifestações intestinais, mas existem diversas outras manifestações que o paciente pode ser inicialmente acometido ou ao longo do seu tratamento. 

Muitas vezes essas manifestações são a causa do diagnóstico. Tão importantes saber as causas como essas alterações extra intestinais para se fazer um diagnóstico, que muitas vezes aparece ao longo do curso da doença . Essas alterações intestinais podem ocorrer e o paciente às vezes tem uma morbidade, tem ainda alterações de saúde clínica que possam atrapalhar. Sabidamente temos, as mais frequentes, que são as articulações, a pele e as mucosas, a área da dermatologia.

As oftalmológicas entram em uma estatística interessante também em termos de números. A hepato pancreato, biliar e as renais, vasculares, pulmonares, endocrinológicas e outras. Essas são as mais frequentes aqui também.

Para podermos entender de onde vem as alterações oftalmológicas, vamos descrever a anatomia básica ocular. 

O olho, de fora para dentro, inicia pela córnea, que é a parte transparente do olho. Logo após, tem a íris que é a parte que dá a cor dos nossos olhos. Tem a pupila e logo atrás temos o cristalino, que é a lente natural do olho, que com o passar do tempo ele, quando perde a sua transparência, chamamos de catarata. Existe uma estrutura bem importante, que está do lado do cristalino, o corpo ciliar. Ele produz ali humor acoso, que seria o líquido interno, que dá a transparência das formas das estruturas anteriores do olho, ela dá ali o preenchimento. E esse corpo ciliar, é responsável pela manutenção desse líquido e da pressão ocular. De acordo com a quantidade de líquido que é produzido e escoado, é mantida a tão importante pressão ocular para a manutenção da forma do olho, para não murchar. Na cavidade ocular, a cavidade vítrea, e a membrana que chamamos de retina. Como todos sabem, também para que possamos ter a visão, a imagem é captada pela retina e reunida em fibras nervosas, que representado pelo nervo óptico é conduzido para o cérebro, atingindo aí o córtex visual, que fica na parte posterior do cérebro, na região occipital. É importante entender isso para poder entender as alterações oculares que vamos falar abaixo.

As manifestações oftalmológicas acometem de 3 a 12% dos pacientes com DIIs. A cada 100 pacientes, em torno de 5 a 12, terão ao longo da vida, alterações oculares.

As alterações oculares mais frequentes acontecem na Doença de Crohn, em torno de 4 a 7%  e na Retocolite Ulcerativa entre 2 e 5% dos pacientes.

Muitos desses casos são subdiagnosticados, os pacientes têm, às vezes, alterações e não sentem, vai levando como se diz, e somente mais tarde chega no oftalmologista. As mulheres são um pouco mais acometidas que os homens. E qual a causa? Boa parte das vezes não é a causa e sim uma reação imunológica que está relacionada à atividade da doença, ou às vezes, pode ser acometido pelo acúmulo de imunocomplexos, que seriam os anticorpos que estão ali, de forma aglomerada, que se acumulam em regiões terminais vasculares, ocasionando reações clínicas.

São manifestações oftalmológicas mais frequentes: a episclerite, que é uma membranazinha pequena que fica sobre a parte branca do olho; a esclera, que é uma inflamação; a uveite; a esclerite; os infiltrados da córnea; o olho seco, que é muito comum; a retinopatia difusa; a retinopatia; a neuropatia; a catarata e o glaucoma. 

A episclerite tem uma frequência maior. É quando o olho fica vermelho e o paciente sente dor, de leve a moderada. Significa que a episclera, que fica acima da esclera, como se fosse o esqueleto do olho. A esclerite é exatamente a inflamação do esqueleto do olho, que é a camada mais espessa, branca, que dá suporte para o olho e é formado basicamente por colágeno, a proteína estrutural. Ainda bem que a esclerite é pouco frequente. Está muito relacionada com a atividade da doença, assim como a esclerite que eu falei agora há pouco, ela aparece, não é pela pela hiperemia, pelo vermelho no olho bem intenso e pela dor muito intensa. Isso é facilmente percebido. A esclerite tem diversas formas de apresentação. Tem a esclerite nodular anterior, a posterior, que às vezes o olho não fica tão vermelho, mas a dor profunda do olho é muito forte, e tem baixa visual também. Tem a necrosante, que é raríssima. Eu já vi pouquíssimas vezes na vida. Isso não está relacionado às DIIs, mas a outras doenças reumatológicas. Também pouco frequente, mas ela apresenta um alto risco de perda visual. 

A uveíte é uma inflamação da úvea. Ela é mais frequentemente, ocasiona a baixa visual, um olho vermelho, ela está associada  com a galia P 27 nos pacientes que têm esse gene aí relacionado, que também se relaciona muito com a espondilite anquilosante. É então a uveíte. Ela começa a dar também risco visual, risco de complicação visual com uma catarata, ou glaucoma. A ceratopatia é o acúmulo de cálcio. Ali no olho ela pode dar hemorragias, o edema na mácula, que é no centro da visão, e isso sim, gerar uma baixa visual, assim como descolamento de retina e atrofia do nervo óptico. São estágios mais avançados da uveíte. Então, muito importante é o diagnóstico precoce, o médico entra com corticóides e conseguimos reverter, na imensa maioria das vezes. Mas precisa ser feito o diagnóstico para que não ocorram sequelas. 

É muito importante nas manifestações oftalmológicas orientar a todos quanto aos sintomas, que na maior parte das vezes são leves, por isso o risco de complicação, como muita coisa na oftalmologia, começa com pequenos sinais e sintomas, ou quase nenhum e vai evoluindo, chegando a um estágio cuja a reversão fica um pouco mais difícil. 

Então, a qualquer sinal é importante a avaliação oftalmológica, principalmente no paciente reumatológico e de DIIs. Normalmente as alterações de baixa visão é que levam o paciente a uma consulta oftalmológica, tornando mais frequente, mas às  vezes quando o paciente tem baixa visão de um olho ele vai deixando e isso pode trazer um risco grande para a visão. O olho vermelho, a dor ocular, a fotofobia, que é a dificuldade em enxergar com a luz, por exemplo, são muito comuns e ele pode estar relacionado a diversos diagnósticos, por isso a detecção precoce do paciente, valorizando os sintomas e buscando atendimento oftalmológico o quanto antes para que não seja surpreendido.

O tratamento das condições oftalmológicas vai passar basicamente por colírios tópicos de anti-inflamatórios e dilatadores de pupila para evitar complicações e, às vezes, corticoterapia oral imediato porque até tomar uma decisão para aumentar a dose de uma medicação ou outra imunossupressora, que o paciente usa, podemos perder um pouco de tempo. A medicação imunossupressora demora um pouco para fazer um efeito pleno, então, aumenta-se a dose de corticoide. Eu não costumo iniciar a terapia imunossupressora e nem aumentá-la, deixo isso a cargo do gastro ou reumatologista que acompanha o paciente, e eu referencio obviamente, para que o colega e eu tratemos junto ia doença. Então esta seria a postura da oftalmologia, iniciamos a terapia antiinflamatória, que na maior parte das vezes, diminui os sintomas, sinais e condições oftalmológicas e a condição clínica geral é a estabilização da doença.

A melhor forma de prevenir é o paciente fazer a sua consulta anual mesmo que não sinta nada, principalmente os pacientes com DIIs, para termo ali um basal de como o olho está, fazer alguns exames, saber como é o paciente normal no dia a dia, ter um registro do olho principalmente os pacientes com DIIs. Às vezes o paciente tem uma cicatriz de fundo de olho, tem uma sequela que nunca soube de alguma condição que já teve, faz algum exame no momento para ter como comparar no futuro, quando possa vir a ter alguma alteração e sempre que possível, o paciente deve buscar ajuda assim que tiver algum sintoma.

Então, basicamente é isso. Espero que eu possa ter colaborado para esse mês muito importante para nós na conscientização da informação para os pacientes e na conscientização também para a população que muitos dos pacientes estão sub-diagnosticados. Espero ter ajudado e deixo aqui meus contatos caso tenham alguma dúvida, estou à disposição aqui em Joinville também, se alguém precisar. 

www.oftalmojoinville.com.br

recepcao.nucleooftalmologico@gmail.com

Obrigado pela oportunidade, estou aqui à disposição até mais!!