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Manifestações orais na Doença de Crohn

Manifestações Orais da Doença de Crohn

O relato do primeiro caso de lesões orais associadas à atividade da DC foi descrito por Dudeney e Todd em 1969, enquanto que o primeiro relato de lesões orais na ausência de sinais e sintomas associados à DC foi descrito por Varley em 1972. Desde então muitos estudos têm documentado alterações orais associadas à DC (Scheper e Brand, 2002; Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013).

As lesões orais foram relatadas em 50% dos pacientes com DII, sendo mais prevalentes em pacientes com DC e tendo maior probabilidade de ocorrer no sexo masculino e em crianças. Na DC, a prevalência de lesões orais varia de 20% a 50% (Mortada et al., 2017).

Dos pacientes afetados com a DC, as lesões orais podem ser os sinais primários de sintomas gastrointestinais em 5% a 10%. Embora as lesões possam ser mais graves no momento da doença ativa, a correlação não é universal, e até 30% dos pacientes podem continuar a manifestar lesões orais, especialmente na faixa etária pediátrica, mesmo na fase de remissão da doença (Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013).

As manifestações da DC na cavidade oral podem preceder, ocorrer ao mesmo tempo ou após a ocorrência das manifestações intestinais e podemos dividir em lesões específicas e lesões inespecíficas (Muhvić-urek, Tomac-stojmenović e Mijandrušić-sinčić, 2016).

Lesões Orais Específicas

As lesões específicas contêm alterações granulomatosas observadas no exame histopatológico e são menos comuns que as lesões não específicas. As partes mais afetadas da boca são as áreas da mucosa, gengiva, lábios, vestibular e retromolar (Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013).

Lesões Polipoides ou Mucosal Tags: apresentam-se como lesões hiperplásicas da mucosa, firmes ou esponjosas à palpação. Estas lesões são principalmente descobertas nos vestíbulos labiais e bucais e nas regiões retromolares. Até 75% destas lesões podem mostrar granulomas não caseosos na histopatologia. Não existe associação direta específica das lesões com a atividade da DC (Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013; Woo, 2015).

Edema nodular oral com aspeto de “pedra da calçada” ou Cobblestoning: A mucosa da cavidade oral apresenta-se edemaciada, fissurada e com aparência hiperplásica, dando um aspeto de “pedra da calçada”, que marca o edema nodular granulomatoso da mucosa oral. Essas lesões são geralmente observadas na mucosa posterior e podem estar associadas a pregas mucosas com epitélio normal. Não existe associação direta específica das lesões com a atividade da DC (Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013; Muhvić-urek, Tomacstojmenović e Mijandrušić-sinčić, 2016).

Mucogengivite: a gengiva pode tornar-se edematosa, granular e hiperplásica, com ou sem ulceração sendo que toda a gengiva até a linha mucogengival pode estar envolvida. Assim como outras lesões específicas da cavidade oral esta lesão não tem associação com aatividade da DC (Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013).

Ulcerações profundas e lineares com bordos hipertróficos: estão especificamente associados à DII. Este tipo de ulcerações podem causar dor ao toque ou ao comer alimentos ácidos, picantes ou quentes. São úlceras, tipicamente persistentes, lineares e profundas, não devem ser confundidas com úlceras orais recorrentes, que são lesões rasas, redondas a ovais, que se
curam espontaneamente em aproximadamente sete a 14. Tal como outras lesões estas não apresentam associação com a atividade da DC (Franch, Soriano e Pérez, 2010; Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013).

Granulomatose Orofacial: é uma manifestação comum em pacientes com DC e é caracterizada pelo edema recorrente ou persistente dos lábios, bochechas, gengivas ou mucosa oral com granulomas não caseosos característicos no exame histológico. Os lábios são as zonas mais afetadas, podendo ser um ou ambos igualmente afetados e geralmente são indolores, sensíveis e firmes à palpação. Não há uma associação com a atividade da DC, tal como nas restantes lesões especificas (Franch, Soriano e Pérez, 2010; Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013; Muhvić-urek, Tomac-tojmenović e Mijandrušić-sinčić, 2016).

Lesões Orais Não Específicas

As lesões não específicas são mais comuns que as lesões específicas, o que dificulta o diagnóstico diferencial. Ocorrem devido a inflamação crónica, desnutrição e como efeito colateral dos medicamentos (Muhvić-urek, Tomac-stojmenović e Mijandrušić-sinčić, 2016).

Úlceras Orais Recorrentes ou Estomatite Aftosa: as úlceras orais recorrentes, apresentam-se como úlceras circulares rasas, circundadas por um “halo” eritematoso com uma membrana central de fibrina. Caso haja um prévio diagnostico da DC, se houver ulcerações aftosas presentes, devemos suspeitar da presença da atividade da DC, embora os sintomas intestinais possam ainda não estar presentes (Muhvić-urek, Tomac-stojmenović e Mijandrušićsinčić, 2016).

Pioestomatite Vegetante: caracteriza-se por ser uma desordem mucocutânea inflamatória crónica, benigna e rara, caracterizada por pústulas de etiologia desconhecida. Está relacionada com a DII, ocorre mais frequentemente em pacientes com CU, embora possa ocorrer em pacientes com DC e é mais comum em pacientes do sexo masculino. As zonas mais afetadas são os fundos dos vestíbulos, a língua, a gengiva, bem como o palato mole e duro. (Muhvić-urek, Tomac-stojmenović e Mijandrušić-sinčić, 2016).

Outras lesões: foram associadas outras lesões à DC como a queilite angular, glossite, líquen plano, cáries dentárias, halitose, xerostomia, doença periodontal, disfagia, disgeusia, odinofagia, candidíase, aumento das glândulas salivares minor, abcessos orais recorrentes e linfoadenopatias submandibulares recorrentes (Lankarani, Sivandzadeh e Hassanpour, 2013).

É difícil determinar se estas lesões tem uma associação direta com a DC, no entanto, acreditase que são devidas ao tratamento farmacológico e à má nutrição por parte dos pacientes. Como resultado da DC os pacientes acabam por sofrer alterações na alimentação e consequentemente levam ao défice de vitaminas e alterações salivares, manifestando-se na cavidade oral. A terapia medicamentosa da DC, por sua vez, pode levar a alterações na cavidade oral devido ao efeito tóxico sobre a mucosa oral e o efeito imunossupressor aumenta o risco de infeções oportunistas
(Muhvić-urek, Tomac-stojmenović e Mijandrušić-sinčić, 2016).

Tese de mestrado de Adriano Daniel Fernandes Vilarinho. A íntegra do artigo pode ser encontrado no link http://hdl.handle.net/10284/8541